A regra dos 5 segundos e outros mitos da segurança com a comida

Será que se deixarmos cair um pedaço de comida no chão e o apanharmos em cinco segundos vai estar livre de bactérias? E se comermos carne de porco mal passada, vai fazer-nos mal? A BBC resolveu avaliar alguns mitos sobre a segurança alimentar e dar a conhecer várias dicas de higiene e conservação dos alimentos, de acordo com um estudo com uma investigação da Food Standards Agency.

1 – Será que a regra dos cinco segundos existe mesmo?

Alguns conhecem-na como a regra dos cinco segundos, outros como a regra dos três. A teoria de que se deixarmos cair um alimento no chão e o apanharmos num espaço de cinco segundos para não ficar com bactérias não passa disso mesmo: uma teoria. Quem o garante é Ronald Cutler, microbiologista da Universidade de Londres Queen Mary, que conduziu um estudo baseado na análise de vários tipos de alimentos que tinham já caído numa superfície contaminada com a bactéria escherichia coli (que se encontra normalmente no trato gastrointestinal). Resultado: mesmo quando os alimentos são apanhados cinco segundos depois, ficam contaminados e impróprios para consumo. Ou seja, mesmo se deixarmos cair um pedaço de comida num determinado local mesmo (aparentemente) pouco contaminado e o apanharmos cinco segundos depois, devemos colocá-lo no lixo, e não comê-lo.

2 – Podemos lavar frango cru antes de o cozinhar?

Não, não devemos lavar o frango cru nem qualquer tipo de carne de aves cruas. Os salpicos da água com que lavamos o frango podem contaminar e propagar as várias bactérias para as mãos, para as superfícies da cozinha e até para a nossa roupa. Segundo o National Health Service, as gotas podem saltar até cerca de 50 centímetros em todas as direções e contaminar bactérias, como a campylobacter, que pode causar dor abdominal, intoxicação alimentar, febre e vómitos. Como forma de evitar isso, deve proceder-se à fervura total do frango (ou qualquer outra ave), que vai facilitar a eliminação dos micróbios.

3 – Se a comida cheirar mal continua a estar viável para consumo?

Não. É principalmente através do aspeto e do cheiro que conseguimos perceber se os alimentos continuam ou não frescos e viáveis para consumo. Se cheirarem mal, não devemos comê-los, porque isso pode ser sinal que já passaram da validade ou estão estragados. Se se trata de alimentos que possuem data de validade, devemos estar atentos e consumi-los apenas dentro do prazo. Este é o único método seguro. Em caso de dúvida, devemos mandá-los para o lixo, para não correr o risco de sofrer com intoxicações, vómitos ou outro tipo de indisposições.

4 – Podemos aquecer o arroz mais do que uma vez?

Idealmente, o arroz deve-se comer no dia em que é cozinhado. Se sobrar arroz, devemos deixá-lo arrefecer (durante mais ou menos uma hora) e depois então congelá-lo. Se o deixarmos à temperatura ambiente pode haver o risco de se formarem bactérias, serem produzidas toxinas que, consequentemente, poderão causar náuseas ou vómitos. Depois disso, o arroz deve então ser reaquecido completamente num período de 24 horas, o mais tardar e todas as restantes sobras devem ser eliminadas. Já com o arroz do take away, devemos ter especial cuidado e consumi-lo apenas na altura, porque nunca iremos saber se já foi ou não reaquecido no estabelecimento.

5 – A carne de porco mal passada faz mal à saúde?

Sim, é verdade. Todo o tipo de carne de porco deve ser cozinhada na totalidade para garantir que não há consequências para a nossa saúde. Segundo a Food Standards Agency, a carne de porco mal passada pode transmitir triquinelose – doença causada por larvas e por um pequeno verme que afeta os suínos e, consequentemente, as pessoas – e hepatite E – infeção transmitida de pessoa para pessoa através da água e de alimentos contaminados. Estas infeções provocam, geralmente, diarreia, cólicas abdominais e mau estar, podendo ainda evoluir e resultar em febre, dores musculares e de cabeça. Em alguns casos pode afetar os órgãos vitais, provocando pneumonia, meningite ou mesmo a morte.

6 – Podemos recongelar alimentos que já foram descongelados?

Sim, quase todos os alimentos podem ser congelados novamente desde que tenham sido preparados e cozinhados convenientemente. Por exemplo, a carne e o peixe podem ser descongelados mais do que uma vez desde que estejam dentro do prazo de validade e sejam selados devidamente no congelador. Depois de cozinhados, podem ainda ser recongelados.

7 – Os rebentos de soja podem comer-se crus?

Primeiro, é necessário ter em atenção se a embalagem diz se os rebentos de soja são prontos a comer. Se forem, não há problema. Se não, é importante lava-los e cozinha-los cuidadosamente para garantir que não surjam problemas ou riscos para a saúde, como contrair salmonella ou escherichia coli. A Food Standards Agency aconselha ainda todas pessoas a não consumirem este tipo de plantas e sementes se estiverem fora do prazo de validade ou se já tiverem uma cor acastanhada.

8 – As lavagens na máquina conseguem mesmo desinfetar e esterilizar os utensílios de cozinha?

Sim. As máquinas de lavar loiça normais podem chegar a temperaturas até aos 95 graus, mesmo que a potência não seja igual em todas as máquinas. Se os utensílios de cozinha forem lavados com frequência a esta temperatura conseguem ficar livres de bactérias e totalmente desinfetados. No entanto, se forem lavados à mão primeiro a taxa de eficácia aumenta consideravelmente.

9 – O sushi precisa de ser conservado a temperaturas específicas?

Sim, a maioria das espécies de peixe contêm parasitas, como larvas que podem ter riscos para a saúde, especialmente se forem consumidos crus, como no sushi. Segundo a Food Standarts Agency, podem causar dores abdominais, náuseas, vómitos e até febre ligeira. Para os eliminar é necessário proceder a uma conservação e congelamento a temperaturas específicas. Quem quiser fazer sushi em casa, deve mantê-lo congelado a cerca de 15 graus negativos.